No TEDxBraga, Pedro Chagas Freitas lembrou-nos que o Factor X da vida pode, de facto, ser invisível. Falou da fragilidade da nossa estrutura — social, económica, emocional — e do perigo de carregarmos o peso de um futuro que não sabemos se virá.
Com esta talk recordei-me do recente apagão nacional. As notificações pararam, as rotinas alteraram-se, as reuniões suspenderam-se. O foco deixou de estar em “fazer acontecer” e “fazer mais” — e voltou-se para aquilo que é essencial: ser pessoa.
Recordo-me de ver na televisão relatos de quem conversou com vizinhos com quem já não falava há anos… E daquela churrasqueira que manteve as brasas acesas no final do dia, para que quem quisesse pudesse cozinhar o que se tinha descongelado.
Um dia cheio de nada tornou-se, paradoxalmente, um dia cheio de tudo: de conexões, de pausas, de sentido. Essa expressão — “um dia cheio de nada” — foi o próprio Pedro quem usou, ao recordar o tempo em que o seu filho esteve hospitalizado. Num dos dias em que não havia exames, ele chamou-lhe precisamente isso: um dia cheio de nada.
E eu, que profissionalmente vivo focada em ajudar empresas a aumentar a produtividade e a lucratividade, saí dessa talk a questionar-me: 👉 Estarei eu, sem querer, a contribuir para um mundo vazio… que é o oposto de um “cheio de nada”?
Ocorre-me que talvez a verdadeira felicidade esteja, afinal, em permitirmo-nos dias cheios de nada — dias em que largamos o peso do futuro e nos entregamos à banalidade bonita do presente.
E... curiosamente desde aí que eu adoro os meus dias cheios de nada!