A memória mais antiga de “quem sou”.
...4 de Dezembro de 1980

Há datas que não esquecemos. No meu caso o 4 de Dezembro de 1980 — faz 45 anos — é uma delas.

Tinha acabado de tomar banho. Entrei na sala e encontrei a minha mãe encostada à janela, meio chorosa; o meu pai a subir o volume da televisão — naquele tempo não havia alexas nem comandos, subíamos mesmo o volume à mão 😊.

Aproximei-me. E ouvi a minha mãe dizer: Morreu o Sá Carneiro.” Olhei para a minha mãe, olhei para a televisão. E perguntei: Era tio da parte de quem?

Ainda hoje acredito que foi por milímetros que escapei a uma bofetada. Recuar para o quarto foi puro instinto de sobrevivência perante o olhar fulminante da minha mãe.

No quarto, tentei perceber quem seria aquele homem que podia causar tamanha comoção. Para mim, só podia ser família. Só isso explicaria as lágrimas. Mas eu apenas conhecia os tios pelos primeiros nomes: o Tio João, o Tio José, o Tio António… “Tio Sá Carneiro” não me dizia nada...

Hoje, olhando para trás, percebo que esta é, provavelmente, a memória mais antiga sobre a minha identidade. E o “quem eu sou” estava colado a “de onde venho”.

Quarenta e cinco anos depois, o mundo mudou — e eu também. Hoje, “quem eu sou” já não vive (tanto!) preso ao passado, aos apelidos ou às expectativas silenciosas que herdamos.

Hoje, “quem eu sou” tem muito mais a ver com “para onde quero ir”.

E este é talvez o ponto mais transformador da vida adulta:

  • perceber que a identidade deixa de ser herdada… para passar a ser construída;
  • perceber que não somos apenas o resultado da nossa história… somos, sobretudo, o resultado das decisões que tomamos a partir dela.

A memória continua lá - viva, nítida, quase cinematográfica. Mas o seu significado evoluiu. Tal como eu. E quero acreditar que : o passado marca-nos, mas é o futuro que nos define (ou deveria!).

Então nada como estes últimos dias do ano para assumir o controlo e definir, com clareza e coragem, quem quer ser, ter e conquistar. É o momento de olhar para trás sem deixar que o passado nos prenda, e projetar o futuro com intenção. Deixar de reagir apenas aos acontecimentos e começar a agir de forma consciente — escolhendo o caminho, assumindo responsabilidades e construindo, passo a passo, a vida que realmente quer(emos) viver!

As “fatias grossíssimas” que me ensinaram uma lição de inovação!
...imagem do site da empresa Limiano...